A médica e pesquisadora Sonia Brucki, 60 anos, é encantada pelo cérebro humano desde a juventude. “Até hoje me surpreendo com ele. É de uma complexidade que eu não sei se a gente vai desvendá-lo em algum momento. Isso o torna ainda mais fascinante, né?”, diz a coordenadora do programa de pós-graduação do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP. Estudiosa da cognição e das demências, Sonia revela que a FMUSP está dando um passo importante para aprimorar a acurácia dos diagnósticos de Alzheimer, que representa cerca de 60% de todas as demências. A FMUSP está em processo de compra do equipamento batizado de Lumipulse, fabricado pela japonesa Fujirebio, capaz de confirmar essa doença neurodegenerativa por meio de exame de sangue — portanto, menos invasivo e mais acessível. O Lumipulse foi aprovado em maio deste ano pela Food and Drug Administration (FDA, órgão equivalente à Anvisa). Questionada pela coluna, a Anvisa respondeu que "o produto dessa linha voltado a identificação da proteína Tau para auxílio ao diagnóstico de Alzheimer não teve solicitação de regularização na Anvisa até o momento". Vale lembrar que, desde 2023, o Laboratório Fleury oferece exame similar, o PrecivityAD2, mediante pedido médico, para pacientes particulares (leia a coluna de novembro de 2023, Alzheimer: exame de sangue no Brasil tem alta procura e ⅓ de resultados positivos). O Fleury coleta o sangue do paciente e envia o material para análise nos Estados Unidos. O Lumipulse também exigirá solicitação médica, mas, ao contrário do PrecivityAD2, realizará o exame no Brasil, o que deve baratear e popularizar o acesso. Sonia espera ter, em maio, os primeiros resultados de exames feitos em pacientes do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos, ligado ao Hospital das Clínicas/FMUSP, que presta atendimento multidisciplinar a 80 pacientes por semana com distúrbios cognitivos. Em um segundo momento, ela acredita que o exame poderá ser oferecido a outras instituições que possam pagar por ele, gerando receita para ampliar o alcance para além dos próprios pacientes do FCFMUSP. “A gente vai ter mais certeza do diagnóstico, mas as pessoas precisam entender que é um exame diferente dos exames aos quais estamos acostumados. Se a sua glicemia está alterada, você faz o exame e sabe que tem diabetes; mas, se você tiver um marcador de doença de Alzheimer, não necessariamente tem a doença de Alzheimer”, diz. Os marcadores positivos podem ser encontrados até 20 anos antes de os sintomas se manifestarem — e, em muitos casos, a doença nunca se desenvolverá. Por isso, tanto o Lumipulse quanto o PrecivityAD2 são receitados apenas quando o paciente já tem um diagnóstico de demência instalada. Sonia Brucki lidera um time de pesquisadores da FMUSP que se debruça sobre temas tão distintos quanto a demência na população LGBTQIA+ e a cognição em idosos da cidade de Belém (PA). No entanto, me diz que atualmente seu maior desafio é o “achismo”: a disseminação de informações falsas. “Quando a gente trata uma doença degenerativa sem cura, as pessoas ficam muito fragilizadas; por isso, buscam alternativas, virando presas fáceis para aproveitadores.” Sonia afirma que há, no mundo, cerca de 200 ensaios clínicos em andamento buscando a cura das demências degenerativas. Por isso, ela acredita que a cura virá nos próximos dez anos. Enquanto não acontece, Sonia continua fascinada com o nosso cérebro. Menciono as teorias de que usamos apenas 1% ou 2% dele, e ela é rápida na resposta: “Não, não, não. A gente usa o que é necessário para o funcionamento. Cada vez que você faz uma coisa, você liga redes cerebrais diferentes. Eu estou falando, estou com a rede da linguagem; eu mexo a minha perna, já é outra rede. Liga uma, desliga outra. Enfim, essa ideia do 1% não cabe.” Nada como a ciência para desmistificar lendas urbanas. Mais Lidas A médica e pesquisadora Sonia Brucki, 60 anos, é encantada pelo cérebro humano desde a juventude. “Até hoje me surpreendo com ele. É de uma complexidade que eu não sei se a gente vai desvendá-lo em algum momento. Isso o torna ainda mais fascinante, né?”, diz a coordenadora do programa de pós-graduação do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP. Estudiosa da cognição e das demências, Sonia revela que a FMUSP está dando um passo importante para aprimorar a acurácia dos diagnósticos de Alzheimer, que representa cerca de 60% de todas as demências. A FMUSP está em processo de compra do equipamento batizado de Lumipulse, fabricado pela japonesa Fujirebio, capaz de confirmar essa doença neurodegenerativa por meio de exame de sangue — portanto, menos invasivo e mais acessível. O Lumipulse foi aprovado em maio deste ano pela Food and Drug Administration (FDA, órgão equivalente à Anvisa). Questionada pela coluna, a Anvisa respondeu que "o produto dessa linha voltado a identificação da proteína Tau para auxílio ao diagnóstico de Alzheimer não teve solicitação de regularização na Anvisa até o momento". Vale lembrar que, desde 2023, o Laboratório Fleury oferece exame similar, o PrecivityAD2, mediante pedido médico, para pacientes particulares (leia a coluna de novembro de 2023, Alzheimer: exame de sangue no Brasil tem alta procura e ⅓ de resultados positivos). O Fleury coleta o sangue do paciente e envia o material para análise nos Estados Unidos. O Lumipulse também exigirá solicitação médica, mas, ao contrário do PrecivityAD2, realizará o exame no Brasil, o que deve baratear e popularizar o acesso. Sonia espera ter, em maio, os primeiros resultados de exames feitos em pacientes do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos, ligado ao Hospital das Clínicas/FMUSP, que presta atendimento multidisciplinar a 80 pacientes por semana com distúrbios cognitivos. Em um segundo momento, ela acredita que o exame poderá ser oferecido a outras instituições que possam pagar por ele, gerando receita para ampliar o alcance para além dos próprios pacientes do FCFMUSP. “A gente vai ter mais certeza do diagnóstico, mas as pessoas precisam entender que é um exame diferente dos exames aos quais estamos acostumados. Se a sua glicemia está alterada, você faz o exame e sabe que tem diabetes; mas, se você tiver um marcador de doença de Alzheimer, não necessariamente tem a doença de Alzheimer”, diz. Os marcadores positivos podem ser encontrados até 20 anos antes de os sintomas se manifestarem — e, em muitos casos, a doença nunca se desenvolverá. Por isso, tanto o Lumipulse quanto o PrecivityAD2 são receitados apenas quando o paciente já tem um diagnóstico de demência instalada. Sonia Brucki lidera um time de pesquisadores da FMUSP que se debruça sobre temas tão distintos quanto a demência na população LGBTQIA+ e a cognição em idosos da cidade de Belém (PA). No entanto, me diz que atualmente seu maior desafio é o “achismo”: a disseminação de informações falsas. “Quando a gente trata uma doença degenerativa sem cura, as pessoas ficam muito fragilizadas; por isso, buscam alternativas, virando presas fáceis para aproveitadores.” Sonia afirma que há, no mundo, cerca de 200 ensaios clínicos em andamento buscando a cura das demências degenerativas. Por isso, ela acredita que a cura virá nos próximos dez anos. Enquanto não acontece, Sonia continua fascinada com o nosso cérebro. Menciono as teorias de que usamos apenas 1% ou 2% dele, e ela é rápida na resposta: “Não, não, não. A gente usa o que é necessário para o funcionamento. Cada vez que você faz uma coisa, você liga redes cerebrais diferentes. Eu estou falando, estou com a rede da linguagem; eu mexo a minha perna, já é outra rede. Liga uma, desliga outra. Enfim, essa ideia do 1% não cabe.” Nada como a ciência para desmistificar lendas urbanas. Mais Lidas

Hospital das Clínicas da USP detectará Alzheimer em exame de sangue

2025/12/05 17:01

Os marcadores positivos para detectar o Alzheimer podem ser encontrados até 20 anos antes de os sintomas se manifestarem — e, em muitos casos, a doença nunca se desenvolverá

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