A nova projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para o mercado de café indica um cenário de menor oferta global e impacto direto sobre as exportações brasileiras.
Os dados constam no relatório divulgado nesta quinta-feira (18) e foram analisados por Guto Gioielli, fundador do Portal das Commodities e analista CNPI.
Segundo o levantamento, o Brasil deve exportar cerca de 40 milhões de sacas de café verde na safra 2025/26, abaixo das 42 milhões embarcadas no ciclo anterior. A redução ocorre em um contexto de queda da produção de arábica e estoques globais nos níveis mais baixos dos últimos anos.
A produção total brasileira foi estimada em 63 milhões de sacas, recuo de 3,1% em relação à safra passada. O principal fator é a redução da colheita de café arábica, variedade mais consumida no mundo e base dos contratos negociados na Bolsa de Nova York (ICE).
“O Brasil entra em um cenário de faca de dois gumes: produz menos arábica, mas opera com preços elevados por causa do aperto nos estoques globais”, afirma Gioielli.
O arábica deve cair para 38 milhões de sacas, reflexo de condições climáticas adversas em regiões produtoras de Minas Gerais e São Paulo. Já o consumo interno permanece praticamente estável, em torno de 22,7 milhões de sacas.
Enquanto o arábica perde volume, o café conilon, também chamado de robusta, avança. A produção brasileira dessa variedade deve atingir 25 milhões de sacas, recorde histórico, impulsionada por boas condições climáticas no Espírito Santo e na Bahia.
Esse movimento tem permitido ao Brasil ocupar parte do espaço deixado por quebras de safra na Ásia nos últimos anos.
“O conilon brasileiro passou a preencher um vazio importante no mercado global, especialmente em cafés solúveis e blends”, explica Gioielli.
Pela primeira vez, o Brasil se consolida como fornecedor relevante de robusta em escala global, com exportações em níveis inéditos para esse tipo de grão.
O ponto mais sensível do relatório está nos estoques mundiais. O USDA projeta estoques finais globais de apenas 20,1 milhões de sacas, queda de 15,9% em relação ao ciclo anterior. Trata-se do quinto ano consecutivo de redução.
“Esse dado mostra que o mercado está operando no limite. Qualquer novo problema climático pode gerar forte volatilidade nos preços”, afirma o analista.
Estoques mais baixos funcionam como um amortecedor menor para choques de oferta, o que tende a manter os preços sustentados, mesmo em um cenário de produção global recorde.
Apesar do aperto atual, o relatório indica recuperação gradual do Vietnã, maior produtor mundial de robusta. A expectativa é que o país volte a ganhar relevância a partir da segunda metade de 2026, aumentando a concorrência principalmente nos mercados de café solúvel.
“Hoje o Brasil se beneficia da ausência de concorrentes asiáticos, mas esse quadro não deve durar indefinidamente”, avalia Gioielli.
No cenário global, a produção total deve alcançar 178,8 milhões de sacas, impulsionada por safras maiores no Vietnã, Indonésia e Etiópia, enquanto o consumo mundial segue em trajetória de alta.
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